8 de julho de 2004

Teratoid Heights. Mat Brinkman. (Highwater Books)


A primeira vez que vi o trabalho de Brinkman foi no livro da SPX de 2000: duas páginas entre outros trabalhos de Jim Drain e Ben Jones, que também não conhecia, e por momentos pensei tratar-se de um só artista trabalhando vário estilos numa espécie de nonsense... A história era a de uns gigantes que trabalham para umas criaturas e entram em greve, não querendo destruir os inimigos dos seus mestres. Mais tarde, encontrei uma paródia-homenagem à Marvel por uma série de artistas alternativos, a Coober Skeber. Nesse pequeno volume, mais seis páginas estranhíssimas, que apenas mostravam uma personagem (a mesma?) movendo-se, encontrando um casulo e sendo transformado pelo contacto com ele. Aparentemente, tratava-se do Warlock de Kirby e, mais tarde, de Jim Starlin (até à data , não entendi a ligação, a menos que seja pelo casulo). Os desenhos eram ainda mais rabiscados do que os primeiros.
Entretanto, descobri o grupo de artistas de Fort Thunder (sobre o qual saiu um enorme artigo num dos últimos The Comics Journal), recebi alguns dos jornais por eles publicados, e comecei a entender a linguagem de Brinkman, integrada nesses mesmos propósitos artísticos mais gerais. De certa forma, a criação de bds de Brinkman parte de uma tendência geral de alguns círculos artísticos que retornaram à figuração e narratividade nas suas peças, encontrando muito na linguagem da bd um meio perfeito a essa expressão procurada. Esse reencontro entre uma linguagem de ilustração e narrativa, bd e outras artes visuais parece-me ser uma tendência global, se incluirmos nessa leitura as variadíssimas exposições comissionadas por Chris Perez, com muitos artistas da área de San Francisco, a carreira de artistas como Raymond Pettitbon e outros (visite-se http://www.newimageartgallery.com/) e, até em Portugal, a exposição de Pedro Zamith na galeria Monumental.
Teratoid Heights reúne pequenas histórias, algumas inéditas, outras éditas: é como se estivéssemos sendo testemunhas de um documentário de um outro planeta, habitado por várias espécies de morfologias estranhas à nossa compreensão, e os seus idiossincráticos metabolismos e comportamentos, quer individual quer social. Todas elas inseridas numa cadeia complexa de relações, umas de amizade, simbiose, ou simples convivência, outras de competência ou até de encontros feitos por puro acaso. Se cada um dos episódios pode ser desconcertante ou até anedótico, inconsequente em si-mesmo, a apresentação global destas peças leva à nossa consideração deste universo narrativo como algo realmente identificável como tal. Brinkman elabora, dentro da sua esfera de acção, um universo coerente, em que cada um dos elementos é significativo e preenche uma função importante no todo. As últimas páginas reúnem o que se parece mais com exercícios feitos despreocupadamente, mas no todo que constitui o livro compreende-se que papel têm para o imaginário avançado pelo autor. Os desenhos, todos a preto e branco, parecem ser feitos à primeira, com traços livres e largos, mas é uma descontracção que elabora imagens coesas. Inserir-se-á Brinkman numa escola que incluirá William Steig, o autor de Shrek, mas com uma visão moderna do que pode ser plástica e narrativamente lógico.
Highwater Books: Brooklyn, Julho 2003. USD 12.95.
(A imagem não corresponde ao livro aqui descrito). Posted by Hello

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